O
cinema sempre foi e sempre será um artifício representativo de questões
polêmicas. E quando mencionamos Paul Verhoeven (conhecido por ‘Instinto
Selvagem’), mestre em prezar pelo politicamente incorreto, o cineasta volta no
auge da controvérsia em ‘Elle’. Com discussões
pertinentes nos dias atuais, a obra distorce os paradigmas associadas a figura
do estupro fugindo de qualquer expectativa.
Baseado
no livro de Phillipe Djian chamado ‘Oh’, a trama acompanha Michèlle Leblanc
(Isabelle Huppert), diretora de uma empresa de videogames e cercada por pessoas
excêntricas, incluindo seu filho (). Sua rotina é quebrada quando ela é
estuprada por um desconhecido, dentro de sua própria casa. Tal ato provoca reações
inusitadas a vida de Michèlle.
Muito
antes de iniciar o filme, um grito intenso rompe o manto da tela: o desespero
de uma mulher em luta com algo. Somos
inseridos a um suspense sobre quem é o responsável por tal atrocidade e, mais
que isso, a trama aos poucos revela o impacto psicológico do estupro em Michèlle.
Não é verdadeiramente um suspense, um espírito de vingança ou um drama sobre o
trauma do ato, a genialidade de Verhoeven é desconstruir o gênero e trazer algo
inovador, diferente e, acima de tudo, impensável.
Inicialmente
a protagonista preocupa pela sua segurança, posteriormente isso passa a ser
deixado de lado e a superação torna-se a nova fase de sua realidade. Superação
não é a palavra correta, pois é impossível prever qual será o próximo passo de
Michèlle. E nesse jogo dos personagens agirem conforme o inesperado, jamais
pensado, inicia-se o julgamento do público. A partir daí, uma série de absurdos
estabelecem no perturbado cotidiano de Leblanc, absurdos extraídos das mais
colossais malicias de uma mente doentia.
Absurdos
estes que Verhoeven explora meticulosamente, dentre eles as pessoas que cercam Michèlle.
O filho retardado (envolvido em uma interessante subtrama), o amante carente, a
mãe preste a embarcar em um casamento forçado e o pai um psicopata. Todo esse
empoderamento intrínseco observado pelo espectador pós estupro, é transmitido
com perfeição pela atriz Isabelle Huppert, atuação digna de prêmios e quem sabe
concorrer a melhor atriz do Oscar 2017.
Com
um grandioso elenco comprometido nas subtramas, Verhoeven consegue desenvolver
com maestria todas as características e ações dos personagens em constante
evolução para a trama. Fato este torna a produção deveras demorada em relação a
filmes comuns do gênero, totalizando 130 minutos.
Com
interessantes propostas nas subtramas, o filme não apresenta dar muita
importância a elas, visto que poderia conceder maior peso para o arco central da
trama. Conseqüentemente, havia várias opções para a conclusão de ‘Elle’ que
poderiam satisfazer o espectador, porém quando falamos de Verhoeven.
Polêmico,
subversivo, diferente e porque não, assustador? Seja pelo impiedoso ato ou
pelas atitudes tomadas pela protagonista. ‘Elle’ segue um rumo muito diferente
e pode agradar, ou não, o público. Agradando ou não, é o rumo para a indicação
de melhor filme estrangeiro para o Oscar 2017.
NOTA: 7,5
Nenhum comentário :
Postar um comentário