Estreias

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Crítica - 'Elle'


     O cinema sempre foi e sempre será um artifício representativo de questões polêmicas. E quando mencionamos Paul Verhoeven (conhecido por ‘Instinto Selvagem’), mestre em prezar pelo politicamente incorreto, o cineasta volta no auge da controvérsia em ‘Elle’.  Com discussões pertinentes nos dias atuais, a obra distorce os paradigmas associadas a figura do estupro fugindo de qualquer expectativa.         

   Baseado no livro de Phillipe Djian chamado ‘Oh’, a trama acompanha Michèlle Leblanc (Isabelle Huppert), diretora de uma empresa de videogames e cercada por pessoas excêntricas, incluindo seu filho (). Sua rotina é quebrada quando ela é estuprada por um desconhecido, dentro de sua própria casa. Tal ato provoca reações inusitadas a vida de Michèlle.                  

  Muito antes de iniciar o filme, um grito intenso rompe o manto da tela: o desespero de uma mulher em luta com algo.  Somos inseridos a um suspense sobre quem é o responsável por tal atrocidade e, mais que isso, a trama aos poucos revela o impacto psicológico do estupro em Michèlle. Não é verdadeiramente um suspense, um espírito de vingança ou um drama sobre o trauma do ato, a genialidade de Verhoeven é desconstruir o gênero e trazer algo inovador, diferente e, acima de tudo, impensável.                      


  Inicialmente a protagonista preocupa pela sua segurança, posteriormente isso passa a ser deixado de lado e a superação torna-se a nova fase de sua realidade. Superação não é a palavra correta, pois é impossível prever qual será o próximo passo de Michèlle. E nesse jogo dos personagens agirem conforme o inesperado, jamais pensado, inicia-se o julgamento do público. A partir daí, uma série de absurdos estabelecem no perturbado cotidiano de Leblanc, absurdos extraídos das mais colossais malicias de uma mente doentia.            
   
  Absurdos estes que Verhoeven explora meticulosamente, dentre eles as pessoas que cercam Michèlle. O filho retardado (envolvido em uma interessante subtrama), o amante carente, a mãe preste a embarcar em um casamento forçado e o pai um psicopata. Todo esse empoderamento intrínseco observado pelo espectador pós estupro, é transmitido com perfeição pela atriz Isabelle Huppert, atuação digna de prêmios e quem sabe concorrer a melhor atriz do Oscar 2017.                    

   Com um grandioso elenco comprometido nas subtramas, Verhoeven consegue desenvolver com maestria todas as características e ações dos personagens em constante evolução para a trama. Fato este torna a produção deveras demorada em relação a filmes comuns do gênero, totalizando 130 minutos.    

    Com interessantes propostas nas subtramas, o filme não apresenta dar muita importância a elas, visto que poderia conceder maior peso para o arco central da trama. Conseqüentemente, havia várias opções para a conclusão de ‘Elle’ que poderiam satisfazer o espectador, porém quando falamos de Verhoeven.

   Polêmico, subversivo, diferente e porque não, assustador? Seja pelo impiedoso ato ou pelas atitudes tomadas pela protagonista. ‘Elle’ segue um rumo muito diferente e pode agradar, ou não, o público. Agradando ou não, é o rumo para a indicação de melhor filme estrangeiro para o Oscar 2017.  


NOTA: 7,5

                 

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